Entrevista com o Produtor Musical “Jorge Araujo”

Nossa primeira entrevista é com o Jorge Araujo, Produtor Musical responsável pelo site SOM BINÁRIO.

Conforme descrito na apresentação da sessão entrevistas, temos 3 perguntas (destacadas em vermelho) que serão padrão para todos os entrevistados.

Entrevistado: Jorge Araujo
Produtor Musical
www.sombinario.com

1- O que te fez entrar para o mundo da produção musical e a quanto tempo está na área?

Eu sempre gostei de música desde criança, com 10 anos de idade já era aficionado por aparelhos de som e gravação, ficava fascinado com a ideia de registrar sons nas fitas no aparelho doméstico de casa. Aos 17 ganhei um violão e desde então a música mudou todos os meus rumos, comecei a tocar um pouco tarde em comparação aos músicos que conheço, mas acredito que não tenha uma idade certa para começar. Comecei confeccionando meus próprios pedais, mas logo desisti disso para poder me dedicar mais aos estudos de música, porém o pouco conhecimento em eletrônica que adquiri me ajuda até hoje. Aos 20 anos de idade fui apresentado ao Pro Tools, minha vida nunca mais foi a mesma. Na época o pro tools era muito inacessível em home-studio, ele contava com uma versão gratuita, mas travava demais, até que um dia conheci o Cubase SX 1.0, na mesma semana já estava gravando bandas de amigos e artistas da minha região em Brasília no Cubase + 1 placa SoundBlaster usando o pré de um mixer Behringer Eurorack 802.

Profissionalmente trabalho a 13 anos apenas, sei que é muito pouco, mas nesse meio tempo tive muita sorte de trabalhar ao lado de pessoas experientes que já passaram por muitas coisas e já registraram e lançaram álbuns importantes na música brasileira, eu devo muito do que sei hoje a esses profissionais guerreiros, não vou citar nomes para não ser indelicado pois sempre acabo esquecendo de alguém.

2 – Nesse meio tempo, teve muitas frustrações, decepções?

Sim, tive muita dificuldade em aceitação dos familiares e amigos por causa daquele papo de “musica não da dinheiro”, passei praticamente minha vida inteira enfrentando esse paradigma imposto por alguém muito infeliz com a música, hoje em dia isso não me afeta, mas já sofri por causa disso muitas vezes. Assim como em qualquer outra área, música da dinheiro, é só saber trabalhar.

As dificuldades vem de todas as partes, de clientes que não pagam ou não querem pagar o preço de mercado. Eu só não desisti porque não sei fazer outra coisa. LOL

3 – O site www.sombinario.com, que tem um dos maiores acervos de dicas e tutoriais da internet quando o assunto e Studio/Home Studio, nasceu de que forma, dica de alguém ou uma aventura pessoal que deu certo?

Esse site nem era para ter existido, era um blog pessoal, eu não dava muita atenção para ele, de 2 anos pra cá comecei a trabalhar nele de forma mais frequente, lembro que iniciei o site para responder algumas dúvidas frequentes de amigos, sempre gostei de compartilhar o que eu aprendo, ensinar não é nada fácil, mas acredito que esteja começando a ficar bom por agora.

4 – Nos dias de hoje, é possível fazer um trabalho profissional dentro de um Home Studio e ter uma boa renda?

Com certeza, você pode ter uma boa renda sim, mas trabalhar por conta própria exige um boa dose de disciplina e responsabilidade extras, em ambiente de estúdio comercial, tem outros profissionais, casa um cuida de uma parte, se você ta no home-studio e ele começa a crescer, sua responsabilidade também aumenta, no momento que sua demanda fica muito grande você já estará  operando como um estúdio comercial, com a vantagem de não pagar impostos.

Tenho que concordar que pagar esses tributos não vale a pena e não julgo quem faz o possível para não pagar, o Home-Studio ajuda até nessas horas. Mas não tem como fugir, uma hora você vai precisar de algo que exija alguma taxa tributária, bem vindo ao mercado.

No começo eu cometi muitos erros, gastava a grana que ganhava em home-studio com besteiras fúteis, e não investia no meu trabalho, o meio musical é traiçoeiro, se você não tiver foco você dança, assim como qualquer outra área, tive que passar por dificuldades para começar a repensar tudo o que estava fazendo. Posso dizer que hoje estou bem mais tranquilo em relação a isso.

Hoje em dia contamos com bons livros e cursos sobre o assunto,  encontramos fácil cursos que ensinam a ganhar dinheiro com HomeStudio, se tivesse isso na época que eu estava “trocando os pés pelas mãos” teria evitado alguns aborrecimentos.

5 – Não precisa citar nomes, mas, já gravou gente complicada/difícil no estúdio?

Sim. Um caso que nunca vou esquecer foi uma banda e tinha umas 15 pessoas no estúdio, estava um caos, a galera levava filho, esposa, namorada, amigos… Eu sempre me lembro dessa situação embora já tenha passado por outras, mas essa foi marcante. Os caras eram muito convencidos, e ficavam o tempo todo fazendo promessas vagas de gravar comigo novamente depois que ficassem mais famosos, sei que isso acontece, mas com essa banda foi exagerado, todos da banda eram assim, parecia uma prova que tive que passar.

Os músicos eram ruins, bons mesmo só o percussionista e o baterista, tive que gravar eu mesmo vários instrumentos na surdina, sei que muita gente não concorda com isso, mas tive que fazer, porque não podia falar que estava ruim, porque era briga na certa, tive muitas discussões com membros desse grupo, a produção foi muito conturbada, foi um trabalho muito difícil. Músicos arrogantes não conseguem ver suas próprias falhas, infelizmente tem muita gente assim. Querem aparecer mais do que a música em si. A banda não vingou, o empresário deles pagou apenas a metade do trabalho e desapareceu. Com o tempo vamos aprendendo a ter mais jogo de cintura nessas situações, na época estava começando e não sabia lidar muito bem com isso.

6 – Planos para o futuro?

Oferecer aulas gratuitas de música e produção musical em comunidades de baixa renda. Espero ter saúde e energia para conseguir fazer isso nessa vida.

7 – Todos nós temos influencias, quais foram os profissionais que lhe inspiraram?

Eddie Kramer, Martin Hannett e George Martin e o saudoso Tom Capone, que deixou um grande buraco na cena brasileira, são as minhas principais influências como produtores musicais, mas claro tem muita gente boa por ai, antes de pensar começar em trabalhar com som, já lia coisas sobre eles. Quem passou pela década de 90 sabe que tinha muitas revistas de rock e sempre trazia entrevistas com produtores de discos famosos, isso me ajudou muito para se aproximar mais nesse universo.

8 – Apesar de desgastada entre os profissionais da área, qual sua opinião sobre o Digital X Analógico?

Minha opinião é que discutir sobre isso é perda de tempo, usar os dois em seu favor é a atitude certa. Ambos os sistemas são muito bons e cada um tem suas vantagens e desvantagens.

9 – Alguma dica para os iniciantes? (O que fazer e o que não fazer)

Embora eu me veja como um iniciante ainda, acredito que já posso arriscar a dicas pelo que passei em 13 anos em home-studio e estúdios. São 13 anos bem intensos.

  • Responsabilidade e prazos, você precisa encontrar um meio de dar conta do trabalho em um tempo curto, hoje em dia tudo é muito rápido, quanto mais rápido você entregar o seu trabalho, melhor para você.
  • Respeitar o espaço de cada profissional, deixar o produtor fazer o trabalho dele, o técnico ou outro engenheiro de som fazer o dele, o masterizador o dele, e por ai vai, não tente abraçar o mundo com as pernas.
  • Aprender a lidar com críticas, se você é sensível a críticas negativas está no ramo errado. Tem aquele cara que vai criticar você de graça, só para te ofender, mas também vai ter aquele cara que vai criticar com embasamento, saiba diferenciar isso, a critica com embasamento poder ser uma grande ajuda para você melhorar em algo. Basta ser sincero consigo mesmo e saberá diferenciar o joio do trigo..
  • Durma bem. Você vai trabalhar diante de caixas de som por muitas horas, se você não descansar vai ter um rendimento ruim e isso vai refletir negativamente no seu trabalho. Lembre-se, você não é uma máquina.
  • Não use drogas lícitas e nem ilícitas durante suas sessões.
  • Faça parte do meio cultural do lugar que você vive, conheça muita gente e seja gentil.
  • O cliente sempre tem razão.

 

Leandro Amaral – Fica aqui meu sincero agradecimento ao Jorge, que não só aceitou, como também, foi super prestativo e paciente na realização desta entrevista. Obrigado Jorge

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